segunda-feira, 26 de maio de 2008

Entre a habilidade e a realidade


Vale a pena ver como é que o apoiante de Manuela Ferreira Leite, Marcelo Rebelo de Sousa, consegue dizer que a sua candidata venceu o debate sem ter o domínio dos dossiers que reconhece a Pedro Santana Lopes e sem estar no seu melhor o que, segundo diz, aconteceu com este adversário. Leia e distinga a verdade da habilidade.

Pedro Santana Lopes – ganhou na luta contra Passos Coelho. Ficou acima das expectativas, que eram baixas, superou-as. Dos três é o que tem maior informação sobre os dossiers da Governação – mais do que MFL e do que PPC - porque todas as semanas tem de se preparar para os debates com o Primeiro-Ministro. É bom em termos televisivos e tomou proveito disso. Foi quem provocou as ocasiões de debate. Fez render bem isso.

Pedro Passos Coelho afundou-se. É curioso. Não só concordou sistematicamente com MFL, começou sempre por dizer «eu concordo» com grande fervor reverencial, como, sobretudo, veio confirmar um problema que dá razão a algumas críticas que lhe faziam: tem uma grande imagem. Não haverá muitos na classe política portuguesa com tão boa imagem – boa voz, boa presença, boa articulação – mas tem dois problemas de conteúdo: (1) é teórico, vê-se que nunca meteu a mão na massa, nunca geriu coisa nenhuma - até Patinha Antão já foi Secretário de Estado! - fala de tudo teoricamente. Hoje a posição sobre o IVA é teórica, não sabe que não é possível e, aí PSL apanhou-o bem. (2) Não fala com convicção. O que PSL tem a mais é convicção. (Mª Flor Pedroso: Porque diz isso?) Pelo tom. Fala de tudo com o mesmo tom acéptico e indiferente. Ora, num debate, há que haver empenhamento no tom das coisas importantes. PSL é o contrário. Tem convicções. Quando diz «bom dia» é como se estivesse a fazer uma proclamação importantíssima ao País. PPC é o contrário: o que diz é bem articulado no mesmo tom.

Manuela Ferreira Leite - não foi das melhores intervenções. Esteve àquem do que é. De início não avançava bem e muitas vezes deu a sensação, não apenas de que se continha para não querer tomar partido em posições que a comprometessem no futuro, o que é responsável, mas que não dominava totalmente a informação sobre os dossiers básicos, o que acho admissível porque a decisão de avançar tem um mês. Mas ganhou. Vasco Pulido Valente diz que se colocou noutro plano porque todos os outros se colocaram perante ela com um temor reverencial. Isso tem a ver com o respeito, O que a Opinião Pública vota na sondagem esmagadora como credibilidade é a respeitabilidade, no Curriculae Vitae, na experiência governativa, na imagem que deixou. Mesmo quem não gosta dela tem uma imagem de respeito. E até de duas coisas de que é politicamente incorrecto falar: é Mulher e tem uma idade senatorial. E isso conta num debate. Não só para entrar num eleitorado feminino como para entrar num grupo etário. Veja o que é um candidato mais novo, com outro pedigri, por exemplo José Sócrates com aquele feitio irritadiço perder a cabeça num debate com MFL. Não é a mesma coisa do que perder a cabeça com um cavalheiro.

Flor: Neste momento pensa que a questão está entre MFL e PPC ou entre MFL e PSL?

Marcelo: Com PPC. Deixe-me fazer este exercício mesmo que vá falhar. MFL vai à frente em Lisboa, área Metropolitana e Oeste; Coimbra, Aveiro, Açores e porventura em Bragança. Há equilíbrio em Castelo Branco, Guarda ou Portalegre. PPC – Porto, Viseu, Leiria (porque Caldas) e Madeira, claramente. PSL tem Beja e Faro e em Braga pode ter uma posição forte. Tudo somado: MFL está à frente, PPC a seguir e a uma diferença substancial está PSL, apesar de uma melhor campanha nesta ponta final. A vitória de MFL vai depender do nº de votantes e do peso de PSL, que come em cada um.

Flor: PPC não acredita que MFL vá buscar votos fora do PSD.

Marcelo: Não é o que as sondagens dizem. Esse é o problema dramático de PPC. Os militantes vão escolher alguém com peso no eleitorado nacional ou sem peso no eleitorado nacional? Ora o problema do Partido é ter estado deslocado do eleitorado nacional com Menezes, com PSL e não sei se com Marques Mendes – há duas posições sobre isso. Agora, MFL todas as sondagens mostram que o eleitoral em geral e o PSD por uma maioria esmagadora acha que deve ser MFL. PPC é visto atrás de PSL como plausível PM ou líder do PSD.

Flor: Quem é melhor para Sócrates?

Marcelo: Em relação a PSL acho que a questão de chegar à liderança não se coloca sequer. Dos dois melhores aquele que tem condições de fazer melhor score eleitoral neste momento é MFL porque olhando as sondagens tem mais.

Flor: Sócrates teme mais MFL ou PPC?

Marcelo: Acho que teme mais MFL até por uma razão simples: Sócrates não vai ter maioria absoluta se ganhar e não tendo maioria absoluta precisa de alguém para fazer uma coligação e pode ser o PSD. É mais fácil fazer com o PPC do que com MFL, até pelos antecedentes de um e de outro. E, portanto, pragmaticamente, até por essa razão a coisa e põe assim.

(Marcelo continua dizendo que não há bela sem senão e que a vitória de MFL coloca um problema ao PSD de «clivagem etária» uma vez que a Juventude está com Passos Coelho e a Velha Guarda com ela).

Diário de Campanha XIX




25/05/2008


LISBOA - VIANA DO CASTELO - MIRANDELA - BRAGANÇA - VALPAÇOS
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O Domingo começa com uma viagem de Lisboa para o Porto e daí para Viana do Castelo onde Pedro Santana Lopes almoça com cerca de 250 militantes e inaugura a sua sede de candidatura (na fotografia). Hoje as notícias reproduzem as declarações de Pedro Passos Coelho exortando o Governo a baixar o IVA sobre os combustíveis. Interrogado sobre o mesmo assunto, Pedro Santana Lopes explica que tal não é possível, requer conversações com Bruxelas e outras ponderações a que a Lei obriga. Os jornalistas questionam: «Está a dizer que Pedro Passos Coelho não sabe do que fala?», ao que o candidato responde: «Não uso esses termos para falar dos meus companheiros». Novamente a mesma pergunta, para resposta idêntica. Mesmo assim o título que vingará nas notícias da tarde é «Pedro Santana Lopes diz que Passos Coelho não sabe do que fala».
Há argumentos que pesam, cada vez mais, neste final de campanha. Os militantes atendem à importância de ter um futuro Presidente que possa combater directamente José Sócrates a partir da bancada parlamentar. Pedro Santana Lopes insiste em dizer que essa não é uma condição indispensável para liderar o PSD, mas reconhece que, em termos práticos, é muito importante estar frente-a-frente com o Primeiro-Ministro, na sede da Democracia, exercendo em discurso directo a Oposição entre líderes de projectos alternativos.
A estrada leva o candidato a novas sessões de esclarecimento em Mirandela, Bragança e, finalmente, em Valpaços, onde mais de 300 militantes não impediram que o jantar desse lugar a um encontro mais intimista com Pedro Santana Lopes. Regresso tardio ao Porto. No dia seguinte o candidato irá a Celorico de Basto, Amares, Esposende, Póvoa do Lanhoso, Vila Verde e Braga. Vai onde as notícias nem sempre o levam.